Conceitos e Valores da Geodiversidade
- Cláudia Costa
- 21 de nov. de 2018
- 5 min de leitura

Fotos: Por Cláudia Figueiredo em Ribeira de Pena

A Geodiversidade (do grego, Geo - Terra + diversidade), ou diversidade geológica, é um conceito que integra todos os elementos e processos geológicos (rochas, minerais, rios, vales, montanhas, zonas costeiras, arribas, cabos, dunas, vulcões, etc…) que dão forma ao nosso planeta e que alteram a estrutura e superfície terrestre.
O conceito de geodiversidade tem sido menos reconhecido do que o conceito de biodiversidade e por ser relativamente recente está ainda menos consolidado. Na definição do conceito encontramos visões mais limitadas enquanto outras são mais abrangentes chegando mesmo a integrar a comunidade de seres vivos. Havendo diversos contributos na definição do conceito de geodiversidade, a mais completa foi avançada por Stanley (2001) citado por Gray (2004: 7) e que de acordo com este ‘"It is the link between people, landscapes and culture; it is the variety of geological environments, phenomena and processes that make those landscapes, rocks, minerals, fossils and soils which provide the framework for life on Earth’’. Para Sharples C. (2002), o conceito (partes não vivas do ambiente natural) não pode estar dissociado do conceito de biodiversidade, pois juntamente com ela definem a evolução e transformação da Terra e definem a sua essência material. Para além disso, a biodiversidade depende da geodiversidade, de forma que uma conservação da natureza bem implementada deve integrar ambas (geoconservação e bioconservação). A geodiversidade constitui o suporte essencial para a biodiversidade e que de acordo com Brilha “… é desta forma, muito condicionada pela geodiversidade, uma vez que os diferentes organismos apenas encontram condições de subsistência quando se reúne uma série de condições abióticas indispensáveis” (Brilha, 2005: 14).
Existem dois termos associados ao termo de Geodiversidade, a Geoconservação e Património Geológico, que importa distinguir e definir. Gray M. (2004) entende por Geoconservação as medidas e ações implementadas na defesa e preservação da Geodiversidade. Envolve o esforço com a preservação da diversidade geológica e lida com a conservação de partes não vivas do ambiente natural, caraterísticas geológicas, formas de relevo e solos. O Património Geológico são locais de Geodiversidade que se entendeu proteger tais como parques naturais (p. ex. Parque Natural de Montesinho ou do Alvão), parques nacionais (p. ex. o Parque Nacional da Peneda Gerês), monumentos naturais (p. ex. Monumento Natural das Portas de Ródão) e paisagens protegidas (p. ex. a Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo.
Todas as partes vivas e não vivas que integram o nosso planeta têm valores significativos, e muitos aspetos da geodiversidade são tão vulneráveis a alterações/perturbações quanto a biodiversidade. O valor estético e emocional do Património Geológico por todos considerado magnífico, não é apenas o importante a proteger, mas também a sua geodiversidade, que representa o máximo valor da Geologia, uma vez que só este valor e respeito asseguram a gestão equilibrada dos recursos geológicos, usar racionalmente os recursos hídricos e uma preservação, a par com um respeito pela diversidade biológica e pelos recursos naturais para a satisfação das necessidades atuais e necessidades das gerações futuras. A título de exemplo, na biodiversidade importa preservar e evitar a extinção das espécies, no caso da geodiversidade é crucial uma boa gestão na extração de areia, carvão, petróleo, etc. De referir ainda como a água e suas caraterísticas está dependente do tipo de rochas por onde passa a água subterrânea até vir à superfície e a nossa total dependência de combustíveis fósseis para produção de energia e gasolina. Recorremos à disponibilidade de rochas e minerais a partir dos quais extraímos elementos químicos fundamentais para a produção de uma série de materiais e de um vasto número de produtos de utilidade diária, que dependem da disponibilidade de materiais geológicos (tais como vidros, mosaicos, azulejos, louças, etc).
A necessidade de proteger a biodiversidade tem sido reconhecida, mas partindo do princípio de que há também necessidade de proteger e conservar a diversidade geológica é porque a mesma tem igualmente valor. Gray (2004) citado por Brilha (2005), refere os diversos valores da geodiversidade, que passo a enumerar: 1) Valor Intrínseco; 2) Valor Cultural; 3) Valor Estético; 4) Valor Cultural; 5) Valor Científico e Educativo. De acordo com algumas perspetivas éticas ambientais, a geodiversidade terá valor intrínseco, dentro de uma visão ecológica biocêntrica, conferindo-lhe, portanto, um caráter subjetivo. Igualmente subjetivo é o seu valor estético, impossível de quantificar pois não podemos dizer que determinada paisagem é mais bela do que outra, sendo um campo discutível. Grande parte do deslumbramento do contacto com a Natureza está associado a aspetos geológicos e a maioria das pessoas vivencia uma experiência agradável na observação de paisagens (Brilha, 2005). Ainda de referir as criações artísticas ao longo dos tempos que fazem agora parte de património cultural e que foram inspiradas pela geodiversidade. Quanto ao seu valor económico é bastante objetivo, pois podemos atribuir valor aos bens geológicos, como os fósseis, os minerais e as rochas. Compreendemos a sua importância pela enorme dependência humana destes bens energéticos. Extração de petróleo, carvão e gás natural para produção de combustíveis e produção de energia. Exploração de minerais radioativos que são o combustível de centrais nucleares. Uso de energia geotérmica utilizada noutros tipos de energia. Construção de barragens para aproveitamento hidroeléctrico e aproveitamento da energia de ondas e marés. Para além da energia, os materiais geológicos são essenciais em todas as obras de construção civil, onde em Portugal usamos milhares de toneladas de calcário, areia, argilas, granito, etc. As pedras preciosas utilizadas na joalharia também atribuem uma valorização económica à geodiversidade. O valor cultural (histórico, arqueológico e a geomitologia) da geodiversidade é atribuído pelo Homem pelo reconhecimento de uma interdependência entre o meio físico envolvente e o desenvolvimento social e cultural. Relativamente ao valor funcional, pode ser entendido segundo duas perspetivas, uma de utilidade para o Homem (ex. o papel essencial do solo para a agricultura) e a outra enquanto substrato para a sustentação dos sistemas físicos e ecológicos na superfície terrestre, ou seja, das condições ideias para a biodiversidade. Este valor funcional é tal como o estético e intrínseco de difícil quantificação. Por fim, o valor científico e educativo da geodiversidade que nos ajudam a viver em zonas de risco vulcânico, sísmico, etc, e através do controlo dos impactes sobre o ambiente das nossas agressivas atividades. E ainda atividades educativas formais e não formais como atividades ao ar livre e saídas de campo (conexão direta com a geodiversidade e não apenas um ensino meramente cognitivo) que permitem conferir à geodiversidade um excelente valor educativo.
Dependemos de um volume extraordinário de recursos geológicos e que apesar do seu valor ter ganho relevância e ser inegável, a espécie humana não tem reconhecido que estes não são inesgotáveis, o que tem tido consequências desastrosas para a natureza.
Referências Bibliográficas:
Brilha J. (2005). Património Geológico e Geoconservação. A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores. Braga
Gray, M., (2004). Geodiversity: Valuing and Conserving Abiotic Nature. John Wiley and Sons. Chichester. England.
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